Jorge Vasconcellos e Mariana Pimentel
Em 2013, ano de insurgências em diversas cidades, no Brasil e em outras partes do mundo, quase toda semana tínhamos notícias, ou nos víamos participando, de ações derua. Essas ações transitavam por modos diversos que iam do rebatismo de placas a coreografias coletivas de defesa contra violências policiais em manifestações. A maioria delas em anonimato, ou realizada por uma coletividade formada na ocasião. Embora se utilizando de recursos ligados às práticas artísticas, essas ações não reclamavam para si, naquele momento, o estatuto de arte. Elas pareciam evocar algo sem nome, a ser reconhecido por olhos e ouvidos porvir. Algo para o qual o termo performance já não dava conta. Mais tarde, em resposta a um massacre midiático, suscitado por um evento acadêmico realizado em 28 de maio de 2014, que colocava em risco a carreira e a vida profissional de dois professores pesquisadores de universidades públicas do Rio de Janeiro, nasce o Coletivo 28 de Maio. Embora o Coletivo reconheça essa data como a marca de uma virada prática em suas vidas, cabe chamar atenção para esse caldeirão fervente de acontecimentos nos quais seus corpos de professorxs teóricxs ativistas já estavam imersos. Não é, portanto, surpreendente que venha desses corpos a feitura, quase artesanal, de textos urgentes para nosso tempo histórico. Seus olhos e ouvidos já haviam sido convocados a ler aquelas ações que transbordavam pelas ruas de 2013, parecendo gritar: “que vida é essa que levamos? como muda-la?” No decorrer dos anos, o Coletivo foi reunindo em torno de suas ideias uma comunidade de estudos, experimentações e pesquisas prático-teórico-ativistas, entre amigxs, alunxs e orientandxs de várias gerações. São os encontros dessa comunidade que tecem, coletivamente, em sucessivas camadas, os textos aqui reunidos, ao mesmo tempo em que ampliam o debate do espaço público das ruas para o espaço doméstico, nos convidando a (re)politizar esse último espaço. Com alguns textos inéditos, outros já apresentados em diferentes ocasiões, a presente publicação escapa elegantemente da armadilha de oferecer respostas encerradas. Trata-se, por outro lado, de sacolejar certos modos docilizados de produzir teoria e, ao mesmo tempo, forjar um livro-armaque nos inspira a agir.
(Texto de Ítala Isis artista, educadora e pesquisadora)