#2 Ao Rés do Corpo: Imagem em Abismo
Data/horário: 16/10/2024 às 14h
Local: Auditório da Pós – IACS UFF – Campus do Gragoatá – Bloco J Gragoatá – Niterói
POR UMA IMAGEM INTERNA DO MOVIMENTO OU DANÇANDO O CORPO IMAGINADO [Maria Alice Poppe – UFRJ/UFF]
O analista do movimento Hubert Godard se apropria da noção neuro-fisiológica de olhar cego para abordar relações do corpo com o espaço/objeto, “permitindo atingir um olhar talvez mais primeiro ou menos manchado de linguagem”. A perspectiva se amplia ao ponto em que a visão não é mais protagonista no manejo do corpo no espaço e na relação com o outro. A presente pesquisa evoca formas preexistentes e imagens externas que servem de modelo ao dançarino para, ao contrário, propor ferramentas de construção de uma imagem interna (ficcional) do movimento. Em diálogo com a noção de olhar cego, trata-se de uma reflexão prático-teórica no âmbito do corpo sensível, cujo propósito é a criação de uma espécie de dança de dentro, proprioceptiva, que possa prescindir da validação de um olhar de fora. A conscientização do movimento, oriunda da Metodologia Angel Vianna, e os mapas feitos pelas presenças próximas no método cartográfico de Fernand Deligny circunscrevem esse trabalho, essa escrita de dança.
É DA BEIRA QUE ESTOU… [Elisa de Magalhães – UFRJ . UERJ]
A partir da ideia de um abismo sem fim, sem chão que ampare o choque de um corpo em queda, refletirei sobre estar à beira, na iminência de uma queda permanente. Nessa perspectiva vertical, defendida pela artista sino canadense, Hito Steyerl, no texto Em queda livre: uma (experiência-pensamento) sobre perspectiva vertical, traduzido para a Revista Arte e Ensaios, como se experencia tempo e espaço, que visualidade seria possível na iminência de uma queda constante sem parada, sem fundo? Mas se não há fundo e se se expererimenta a descida sem fim, percebe-se que se está em movimento? Como diz o filósofo Rafael Haddock-Lobo, em texto escrito para videoarte Des-terra, feita pela autora e por ele, “E da beira, só dela, escrevivo. Daqui, como aquele que se escora às pedras, sem saber contudo encantar como as sereias, vejo a água transcorrer…”. Mas o que se vê, é sempre o transcurso? Como é possível ver? É possível ver ou teremos uma outra experiência de visualidade desde a beira?
Maria Alice Poppe é bailarina, pesquisadora, professora e colaboradora em processos de criação de dança contemporânea. Interessada no diálogo interdisciplinar, Poppe investiga o corpo e suas relações poético-políticas com o chão, com a gravidade e com a queda em uma perspectiva híbrida de gesto e pensamento, dança e artes visuais. Licenciada em dança pela Faculdade Angel Vianna e mestre em Artes Visuais pela UFRJ, lecionou por 15 anos no Curso Técnico e na Licenciatura em Dança da Escola e Faculdade Angel Vianna. Doutora em Artes Cênicas pela UNIRIO, com estágio doutoral no exterior pela Coventry University, atua como professora adjunta nos Cursos de Dança da UFRJ e como colaboradora no Programa de Pós-Graduação em Estudos Contemporâneos de Artes da UFF.
Elisa de Magalhães é artista visual, com exposições individuais e coletivas no Brasil e no exterior. Professora da EBA/UFRJ, membro permanente do PPGAV/UFRJ, e colaboradora do PPGARTES/UERJ. Pós-Doutoranda em Bioética pelo PPGBIOS/UERJ (2020 -), Pós-Doutora em Filosofia pelo PPGF/UFRJ (2019) e Pós-Doutora em Artes pelo PPGCA/UFF (2015). Publicou o livro sobre sua pesquisa (o corpo na caixa), em 2022. Também foi publicado o livro Nenhuma Ilha, sobre parte de sua obra artística, organizado por Marcelo Campos, em 2014. Elisa de Magalhães vive no Rio de Janeiro. Sobre seus trabalhos, está no ar o site www.elisademagalhaes.com.br.
Organizadores: Caroline Alciones de Oliveira Leite e Tato Taborda